Novos Desportos

Numa notícia avançada ontem pela agência de informação desportiva do Burundi "Correkeu ját Apanho", fiquei a saber que o desporto Maplizapping passou a fazer parte do grupo de modalidades desportivas que participam nos Jogos Olímparados. Com a curiosidade aguçada para todo um novo mundo desportivo que desperta na sociedade actual, fui tentar saber um pouco mais sobre este desporto de elite. Após atenta e apurada investigação, estou pronta para vos revelar a verdadeira essência do Maplizapping .

O Maplizapping consiste na difícil arte de, a partir de um sofá, fazer rápidas mudanças de canal televisivo, o famoso zapping . Num desafio de Maplizapping sai vencedor o atleta que, num determinado intervalo de tempo, conseguir efectuar o maior número de mudanças de canal.

Os maplizappers têm um plano rigoroso de treinos, alimentação e estilo de vida que devem seguir à risca e ao qual não são admitidos quaisquer desvios. O dia destes atletas começa por volta das 11 da manhã com um pequeno-almoço substancial composto por um pratinho de moelas, dois pires de caracóis, uma caneca de cerveja, um pingo e um croquete de raspas de presunto.

A compleição física dos praticantes desta modalidade deve ser robusta e quanto maior volume tiver o seu abdómen mais fácil se torna adoptar posições de elevada performance sobre o sofá.

Assim, toda a alimentação do atleta está orientada para o aumento da massa corporal. Após a primeira refeição do dia, e durante cerca de duas horas, segue-se o treino de estabilidade: os atletas deitam-se, rebolam, enroscam-se e treinam as posições mais exigentes sobre o sofá (que lhes permitem melhorar a capacidade de equilíbrio). Depois de um farto almoço de sandes de leitão e vinho branco gaseificado é chegada a hora do treino mais exigente do dia: o zapping.

Durante o aquecimento os atletas fazem exercícios de musculação digital que, e citando o presidente da FIM (Federação Internacional de Maplizapping ), "equiparam-se aos exercícios de aquecimento executados pelos maiores pianistas de todos os tempos".

Depois de todo este treino intensivo o dia termina com uma feijoada de marisco ou uma vitela de Lafões para aconchegar o estômago. O Maplizapping é considerado um desporto de elite, pois não só os atletas necessitam de possuir características físicas muito especiais (abdómen em forma de bilha de azeite, braços arregueifados, pernas tronchudas e pelagem grossa e escura dispersa por todo o peito e costas), como o equipamento pode atingir preços inimagináveis.

Para iniciar a prática deste desporto será necessário possuir um sofá em napel, de preferência branco, ou, conforme se tem visto ultimamente, em cinza-claro com estrias pretas, e um comando coberto por um pequeno saco plástico com pequenos botões coloridos. Na alta competição o equipamento atinge um elevado grau de requinte e preços verdadeiramente exorbitantes. Os melhores atletas possuem sofás em pele vermelho-acácia, rosa-pérola ou azul-eléctrico com pés em madeira exótica. Os comandos são em acrílico inquebrável com botões de PVC vulcanizado.

O vestuário é simples: pijamas confortáveis em poliéster colorido, com padrão à escolha ou fatos de treino em tactel. As competições são autênticos desfiles de equipamento de luxo e atletas lustrosos. Nos campeonatos o nervosismo invade a multidão aficcionada que assiste a estes eventos, enquanto os desportistas, em contorções furiosas no sofá, tentam percorrer mais de 2000 canais num tempo-limite de 5 minutos.

O recordista mundial de Maplizapping é o gabonês Indágora Cumipapas que, no tempo alucinante de 40 segundos, consegue mudar de canal 2027 vezes. No nosso país o Maplizapping possui já alguns praticantes de alto gabarito dos quais se destaca o campeão nacional e vice-campeão da África subsariana Atanásio Oliveira das Canas, um desempoeirado atleta calipolense, que representa a ARPVV (Associação Recreativa Os Pica-paus de Vila Viçosa).

Portanto, meus caros, sentem-se nos vossos sofás e mãos ao comando!

Despertem o desportista que há dentro de vós!